ESCOLA DE LEITORES DE ARÕES aLER+

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domingo, 3 de janeiro de 2010

Arroz do Céu

O conto Arroz do Céu é estudado no 7.º ano. A partir dele, o professor pretende chamar a atenção dos alunos para a actualidade da problemática das minorias étnicas, dos problemas que têm surgido em Portugal, uma vez que o nosso País é hoje não só uma terra de emigrantes, mas também de imigrantes. A partir deste conto, o professor procura também sensibilizá-los para a importância de valores como a partilha, a solidariedade, a amizade, o respeito, a responsabilidade, a compreensão, a justiça, a honestidade, a igualdade e a cooperação. Os alunos poderão ainda elaborar trabalhos de pesquisa sobre os problemas dos imigrantes, a cultura, os hábitos, os costumes, a língua, a escola…É um conto maravilhoso que nos ajuda a crescer e a reflectir sobre os problemas.


«Arroz do Céu» é um conto de José Rodrigues Miguéis que retrata a vida de um imigrante de leste, dos países Bálticos (Estónia ou Lituânia), muito pobre, com seis ou sete filhos, a viver nos EUA e a trabalhar no subway (Metropolitano). Ele considera este emprego muito melhor que os anteriores, porque não precisa de falar inglês, que mal entende, e, como veremos no final, lhe permite sustentar a família com o arroz que cai pelos respiradouros do metropolitano, desperdiçado no Uptown (a parte rica da cidade de Nova Iorque) e que ele apanha do chão “imundo e viscoso”.

Este conto, escrito em 1962 por alguém que viveu nos EUA, versa o problema das minorias étnicas (os imigrantes). A personagem principal não tem um nome próprio que a individualize como ser humano e cidadão integrado, conhecemo-la ao longo da história pela sua profissão: “o Limpa-vias trabalhava há muitos anos no subway”. O mundo do protagonista é um mundo à parte. O Uptown é caracterizado como sendo “chique a paróquia e imponente a igreja (…) onde o arroz chove às cabazadas em cima dos noivos; (…) arroz alvo, carolino de primeira”. O Limpa-vias “Desconhecia os ritos e as elegâncias”: no seu casamento não tinha havido arroz de espécie nenhuma, nem de galinha, nem cru. Por isso, ele nunca imaginou que o arroz provinha dos casamentos que se celebravam à superfície. Para ele, o arroz que caía pelos respiradouros “vinha do céu, como a chuva, a neve, o sol e o raio”, era uma dádiva de Deus. “Deus, lá no Alto, pensava no Limpa-vias, tão pobre e calado, e mandava-lhe aquele maná para encher a barriga aos filhos.” As relações unidireccionais são evidentes, a personagem desconhece por completo o tipo de vida das pessoas que vivem no Uptown, um mundo completamente oposto ao seu. A grande diferença entre estes dois mundos reside na “…claridade (…) voragem empolgante das ruas” (o mundo dos outros) e na obscuridade “parede negra (…) floresta subterrânea” (o mundo do Limpa-vias). O mundo dos outros, símbolo de alegria e de divertimento, onde o arroz é visto como “grande estrago de alegria” e até como ”desperdício». Este desperdício é aproveitado pelo Limpa-vias que, com ele, sustenta a sua família. As relações de dominação, de isolamento, de ausência de partilha, de falta de solidariedade e de conhecimentos são enfatizadas na frase final do conto: “O céu do Limpa-vias é a rua que os outros pisam”. Para o Limpa-vias, o Uptown simboliza o Céu, pois é de lá que cai o arroz. Para os outros, é apenas o chão que pisam diariamente sem se aperceberem. Esta visão diferente do Uptown e o significado que ele tem quer para o Limpa-vias quer para os outros, reforçam uma vez mais a ideia de que se trata de um mundo ao qual ele não tem acesso. Esta frase final é profundamente irónica, dando a entender que há um Céu para os ricos e outro Céu (muito mais baixo) para os pobres.

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